Entre gregos e romanos, a pergunta: você tem colocado seus valores em prática?

Um dos meus livros favoritos dos últimos anos, intitulado “Dizer a Verdade Sobre Si” e publicado pela primeira vez em 2017, reúne seminários e conferências que ocorreram nos Estados Unidos, mas foram ministrados por um filósofo francês chamado Michel Foucault.
Eu sei que, para muitas pessoas, pode parecer uma leitura bastante enfadonha. De fato, não foi das mais fáceis, pois a obra surgiu a partir da transcrição e tradução dos discursos do filósofo, portanto, o texto é mais fragmentado do que linear. Isso significa que qualquer deslize na atenção vai fazer com que a gente tenha que ler o mesmo trecho novamente algumas vezes. Ainda assim, enfrentada essa barreira, foram tantos os aprendizados que eu gostaria de compartilhar os que mais gostei. O primeiro deles envolve as práticas de autoconhecimento e melhoramento de si, realizados no período greco-romano (momento em que as civilizações grega e romana se desenvolviam com mútua influência).
A partir desse contexto histórico apresentado por Foucault, descobri uma linha de pensamento que defende que nossas virtudes não são inatas, isto é, não nascem conosco, mas são desenvolvidas ao longo do tempo e precisam ser colocadas em prática constantemente.
Para explicar melhor, pensemos no conceito de contradição, que é quando, por exemplo, temos nossas convicções sobre determinados temas, mas atuamos de maneira completamente oposta a elas. Que salto é esse que acontece entre os nossos discursos e as nossas ações? A leitura do livro de Foucault me fez refletir que isso ocorre porque não estamos comprometidos com os nossos valores, a ponto de nos autoavaliarmos com frequência.
O que nos leva à minha outra descoberta e aprendizado, a palavra grega “parrésia”, que, resumidamente, significa “o franco falar”. Uma prática muito utilizada por filósofos com o intuito de mostrar ao outro o que ele não está vendo sobre si. Isso porque, naquela época, esses livre pensadores tinham muito prestígio e exerciam o papel de mestres de jovens interessados na carreira política.
Compreender que existimos em relação aos outros e que é preciso sempre colocar à prova se aquilo que acreditamos sobre nós mesmos condiz com a realidade foi muito importante. E aí, você tem revisado se seus atos coincidem com aquilo em que acredita? Tem prestado atenção aos amigos ou conhecidos que, corajosamente, apontam questões do seu comportamento que poderiam ser melhores?
Essas foram algumas das várias perguntas que eu me fiz. E fico pensando como seria ter acompanhado esses seminários “ao vivo”, no momento em que ocorreram, que tipo de interpretações eu teria feito e as perguntas que poderia realizar a Foucault. Nesse sentido, inclusive, me recordo de uma fala dele, na ocasião, contando que os limites do idioma (visto que sua língua nativa era francesa) o impossibilitaram de aprofundar as discussões do modo que desejava.
O filósofo chegou até mesmo a perguntar aos presentes se compreendiam francês, para poder seguir suas palestras com a sua língua materna. Como não houve resposta que favorecesse seu desejo, ele continuou apresentando os seminários e conferências em inglês, mas certamente ressentido de não poder explorar todo seu repertório.
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