Erro de interpretação

Imagem de um painel com várias entradas de áudio, cada uma identificada por uma bandeira nacional. Da esquerda para a direita, aparecem as bandeiras da Espanha, Reino Unido, China, Alemanha e França.

Quando eu era pequena, assistia na TV a grandes eventos internacionais, como a premiação do Oscar ou o concurso Miss Universo. Naquela época, essas transmissões eram exibidas principalmente pelos canais abertos brasileiros, e para mim isso nunca representou uma dificuldade. Eu me divertia e entendia o suficiente para acompanhar.

Com o tempo, cresci, fiz curso de inglês e cheguei a um ponto em que já conseguia entender o idioma. Foi então que percebi que esses eventos eram transmitidos com a ajuda da interpretação simultânea, um recurso que garante a tradução para o espectador. Funciona basicamente assim: um intérprete acompanha a transmissão direto da cabine da emissora e traduz, em tempo real, tudo o que é dito. Ou seja, enquanto a celebridade no tapete vermelho fala em inglês, a voz do intérprete se sobrepõe à dela, trazendo a tradução em português para nós, em casa.

Sempre achei essa profissão o máximo! Quem já tentou dar uma de intérprete por trás da telinha da família brasileira sabe do que estou falando. Era muito legal fingir que eu mesma era a intérprete do evento tentando traduzir para o público (minha família) o que as celebridades falavam ao vivo. Só que fazer isso é muito mais difícil do que parece. Para fins de comparação, é como tentar se manter em cima de um touro mecânico: depois de 15 segundos, você cai. “Ah, mas é porque você não entende o que o famoso está dizendo?” Não. A questão é que, após os primeiros segundos, a voz do intérprete se sobrepõe tanto à transmissão que a fala original em inglês vira praticamente um murmurinho. Não desmerecendo essa linda e dificílima profissão — sim, é considerado um dos tipos de tradução mais desafiadores de exercer —, mas, para quem gostaria de ouvir também o idioma de origem, a experiência pode acabar ficando comprometida.

Corta para anos mais tarde, eu já adulta, trabalhando numa escola de inglês da minha cidade. Tinha uma colega que era professora de inglês, muito experiente, por sinal, que havia morado por 10 anos no exterior e, na época, já dava aula há mais de 7 anos. Certo dia, ela me contou que havia recebido um convite para “fazer a tradução” de um evento que aconteceria na minha cidade, no qual haveria um palestrante estrangeiro falando sobre espécies de fungos. Confesso que na hora fiquei com uma pulga atrás da orelha, e pensei: “Caramba! Como ela vai traduzir ao vivo um palestrante falando para várias pessoas sobre algo tão técnico e específico?” Destaco aqui que ela tinha fluência no idioma inglês, mas não tinha formação de intérprete, nem de tradução. De qualquer forma, não falei nada, fiquei na minha.

Passado o dia do evento, perguntei a ela como tinha sido. Ela só disse: “Nunca passei tanta vergonha na minha vida!” Resumindo o desfecho, o palestrante ia falando por cerca de 3 minutos ininterruptos, o que é muita coisa até para um intérprete com experiência, mesmo tomando nota. Quando ele parava de falar, ela tinha que assumir o microfone e traduzir tudo o que ele havia dito nesses 3 minutos — claro, sem esquecer do tema supertécnico e nada facilitador: espécies de fungos. No fim das contas, o evento durou cerca de quatro horas, e ela até tentou, mas traduziu muito pouco do conteúdo. Inclusive teve que se desculpar para o público presente. Só sei que nunca esqueci essa história.

Já esse tipo de tradução se chama interpretação consecutiva, só que, na verdade, não funciona exatamente da forma que aconteceu com a minha ex-colega. O profissional, além de ter conhecimento no ramo, atua com técnicas, e tudo é alinhado com o orador antes do evento para que seja dito um trecho ou frase por vez antes de o profissional dar início à tradução de forma consecutiva. Em outras palavras, um intérprete precisa ter especialização e formação como tal para atuar de forma profissional num evento. Só ter fluência em algum idioma não é o suficiente.

Essas duas experiências me fizeram perceber que, em alguns contextos, contratar um serviço de interpretação pode demandar mais tempo, estrutura e custos, principalmente no caso da modalidade consecutiva. Outro desafio é a disponibilidade de profissionais qualificados em determinadas cidades ou para demandas de última hora, além da infraestrutura necessária para o intérprete exercer a função, como cabines e equipamentos adequados.

Mas a boa notícia é que já existe uma alternativa acessível, moderna e eficiente para muitos tipos de eventos: o Legenda.Live. É uma solução com legendas geradas por inteligência artificial que aparecem em tempo real direto na tela, e o melhor: podem ser utilizadas também à distância. Para mim, é realmente o melhor dos dois mundos: você entende tudo sem perder a experiência de ouvir a voz de quem está falando no idioma original e sem prolongar demais o tempo do evento. É a tecnologia a favor da comunicação e da acessibilidade, trazendo mais praticidade para diferentes tipos de encontros e apresentações.

Letícia Contini

Gerente de projetos e tradutora da Skylar, atua no ramo da legendagem desde 2020. Pós-graduada em tradução. É entusiasta da tradução audiovisual acessível e, atualmente, exerce a função nos idiomas espanhol, inglês e português.

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